por: Leandro Samora
QUESTÃO DE HONRA (A few good men)
“Você não aguentaria a verdade!”
– Col. Jessup (Jack Nicholson)
Durante a minha infância, eu assisti muita televisão. Junte bastante tempo livre com TV à cabo que você consegue horas de assunto em rodinhas de conversa e referências para diferentes situações.
E dá também para aprender uma coisa ou outra. Por exemplo, como esquecer da hora do almoço em frente à telinha assistindo JAG e acompanhando as aventuras de um advogado na Marinha americana? Propaganda militar à parte, era um programa divertido e me ensinou que quando alguém pede pela Corte Marcial… é bom se preparar para a briga!
Em Questão de Honra (1992), dois fuzileiros atacam, na calada da noite, um colega de pelotão, que acaba morto. Como se isso já não fosse complicado o bastante, o evento se dá em Guantánamo, polêmica base militar americana em Cuba que, atualmente, é famosa por abrigar os novos inimigos de Estado dos EUA: os suspeitos por terrorismo. Nota histórica: à época em que se passa o filme, a base ainda era apenas um posto avançado do exército para manter o olho sobre a ameaça comunista que Cuba representava.
Montado o caso, no qual os dois fuzileiros acusados, aparentemente, não teriam defesa, passamos a conhecer os advogados da história. A Ten. Comandante Galloway (Demi Moore) é a advogada “de coração”, que crê no direito de defesa de todo homem e que passa a lutar para conseguir a representação dos réus.
Só que o caso não é tão simples e logo fica claro que é de interesse do Exército encerrar logo a disputa. É indicado então o jovem – e petulante – Ten. Kafee (Tom Cruise), garoto de ouro da Corregedoria Naval, famoso por conseguir acordos rápidos e não fazer perguntas.
Você sabe onde isso vai dar. Tom Cruise, com seu sorrisão de bom moço, não pode desapontar o espectador e logo ele é obrigado a encarar a realidade de sua responsabilidade e passa a lutar pelos acusados. E se isso significa atacar os peixes grandes da cadeia de comando da maior força militar do planeta e convocar a Corte Marcial – oi, JAG!– que seja!
“A Lei não ganhará este caso, e sim os advogados”. Esta frase é solta em determinado momento e não poderia ser mais acertada. A lei serve para proteger o cidadão, mas será que ela é a mesma para todos, realmente? E em se tratando de um ambiente militar, onde muitas vezes o mais fraco é “sacrificado” em prol de um anunciado “bem maior”, o que pode o indivíduo, sem ajuda?
O título em português do filme, Questão de Honra, é bom, mostra o empenho dos advogados em desafiar toda uma hierarquia estabelecida há tanto tempo – e apoiada pela tradição americana da prioridade pela segurança nacional, um esquema aceito de fins justificando os meios. Mas posto assim, parece que se trata de uma pendenga pessoal, uma birra. Uma vontade de bater o pé e mostrar a língua.
É por isso que eu ainda prefiro o título original. A few good men, ou “alguns bons homens”. Ele tem mais força. Evoca a coragem necessária em se levantar contra o que é errado, de fazer o certo quando ninguém mais pode. Mostra que muitas vezes, só são necessárias umas poucas pessoas com fibra, determinação e honra de verdade para começar a consertar as injustiças por aí.
E, que legal que dessa vez, essas pessoas são advogados!
Leandro Samora é graduando de história na Unicamp, crítico de cinema e consultor de redações para concursos.
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